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  • mariaelisaalmeida

A Influência da Proteína na Glicemia

O diabetes é um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares como: infartos, acidentes vasculares cerebrais (AVC) e entupimentos das artérias, especialmente das pernas e pés, além de formação de aneurismas – dilatação de um vaso sanguíneo.


Sabemos que a Dietoterapia é uma das partes mais desafiadoras no tratamento do Diabetes Mellitus Tipo 2 (DM2). A Terapia Nutricional pode retardar ou mesmo evitar o surgimento do DM2 em pessoas com risco e é decisiva também para o sucesso da terapia farmacológica. Uma alimentação saudável constitui pilar essencial, que visa principalmente manter um controle glicêmico o mais perto possível da normalidade.


No dia a dia, um equilíbrio no consumo dos macronutrientes é fundamental. Dentre os três macronutrientes existentes: carboidratos, proteínas e gorduras, hoje vamos destacar a influência das proteínas no controle glicêmico.


Proteínas garantem ao nosso corpo os aminoácidos essenciais para o crescimento, manutenção e reparação dos músculos. As principais fontes alimentares de proteínas são: ovos, queijos, iogurtes, carnes, aves e pescados (proteínas de fonte animal). Feijão, soja, lentilha, ervilha e grão de bico (proteínas vegetais).


Na última Diretriz de 2022, o Departamento de Nutrição da SBD destacou que ingestão de proteínas para as pessoas com Diabetes (sem doença renal) deva variar de 1 a 1,5 g/kg de peso corporal/dia ou de 15-20% das calorias totais diárias.


Essa recomendação com base em estudos robustos, demonstrou auxiliar na prevenção da sarcopenia (perda de massa magra) durante o emagrecimento, e na manutenção da massa muscular, com benefícios também no controle glicêmico e na saciedade.


Entretanto, destacamos que sempre que possível, a prescrição de proteínas deva ser também individualizada, considerando o diagnóstico nutricional, as necessidades, nível\tempo de atividade física, a cultura, hábitos e o perfil de cada paciente. 


Uma opção interessante para auxiliar no controle do Diabetes é associar proteínas antes de uma refeição.  Estudos em pacientes com Diabetes Tipo 2, mostraram que consumir proteínas pré-refeição que contenha carboidratos, pode melhorar o controle e reduzir o índice glicêmico da alimentação, pois, estimula a produção de insulina e diminui o esvaziamento gástrico, reduzindo assim, a curva de glicose pós-prandial (pós-refeição)


Ou seja, comer na ordem certa vale a pena e propiciará um “achatamento na curva glicêmica”. Algumas pesquisas também demonstraram que iniciar a refeição pelas fibras e proteínas, reduz o pico glicêmico em torno de 73%, assim como o pico de insulina em 48%.


Pacientes que utilizaram sensores de glicose em sistema de monitoramento Flash em tempo real,  mostraram que consumir proteínas antes da refeição, influenciou de forma positiva no controle da glicemia, reduzindo o pico pós-prandial precoce. Um estudo de 2016 realizado em pacientes com DM2 com duração de 8 semanas, mostrou que o grupo que comeu na ordem certa (salada\fibras e carne\proteína primeiro; antes do carboidrato), obteve redução significativa na HbA1C (Hemoglobina Glicada).


O grupo de pacientes que ingeriu os mesmos alimentos e calorias, mas sem uma ordem específica, não obteve qualquer melhora em sua condição. Além disso, o consumo de proteínas está associado a maior saciedade e redução da resistência insulínica. Outra pesquisa comparando 30% versus 15% de calorias através de proteína, notou melhorias no peso, de glicemia de jejum e menor necessidade de insulina no grupo que consumiu mais de energia oriunda da proteína.


Por isso, é muito importante garantir uma boa quantidade de proteína diária, e de preferência fracionada durante o dia nas diversas refeições. Suplementos proteicos poderão ser utilizados e prescritos por profissionais se necessário, caso o paciente não se consiga atingir as quantidades diárias na alimentação, ou em casos de deficiência nutricional.


Embora o consumo de proteínas possua os benefícios mencionados  e que, saibamos que o carboidrato é o macronutriente que mais impacta na glicemia pós-refeição, estudos demonstraram que a proteína também pode afetar significativamente o perfil glicêmico tardio, dependendo da quantidade ingerida. Em pacientes com Diabetes, um consumo ≥30g de proteína com carboidratos (Ex: ≥ 150g de carne) e ≥ 75g de proteína isolada (Ex: em média ≥ 300g de carne) mostraram influencia na glicose, aumentando a chance de hiperglicemia tardia, ou seja, de 2 a 6  horas após a refeição.


Pesquisas robustas demonstraram que na ausência de carboidratos, uma porção de 12,5  a 50g proteínas não elevou a glicemia de forma significativa, enquanto que a adição de 75 a 100g promoveu um aumento da glicose sanguínea, semelhante à produzida por pelo consumo de cerca de 20g de carboidratos. Dessa forma, pacientes que utilizam insulina por exemplo, poderão ter necessidade de ajuste na dose antes e após refeição, visando obter um melhor manejo glicêmico.  


Uma revisão com análise de vários estudos bem conduzidos nesse tema, sugeriu que pode ser necessário um adicional em torno de 30-35% da dose de insulina calculada pela contagem de carboidratos, em refeições que apresentem maior quantidade de proteínas e gorduras nos pacientes em insulinoterapia. Essa adição pode ser um ponto de partida para avaliação e ajustes posteriores com o médico e nutricionista.


Porém, cabe destacar que não há, até a presente data, um algoritmo único e seguro para consideração desse macronutriente na dose de insulina, que se adeque a todas pessoas com Diabetes.


Na prática, uma preocupação é que o adicional de dose, se aplicada previamente a refeição, possa gerar também um maior risco de hipoglicemia precoce (até 2 hs após a refeição), uma vez que o esvaziamento gástrico de refeições com essa natureza tende a ser mais lento, além da proteína apresentar um efeito de conversão de glicose mais tardio. É importante reforçar a necessidade da Educação em Diabetes, de traçar metas realistas e de realizar a monitorização da glicemia.


Ao consumir proteínas, em ocasiões como churrascos por exemplo, monitorar a glicemia pré e pós-prandial (2h, 3h e 5h depois da refeição), poderá ajudar a determinar melhor os ajustes necessários ao tratamento.


Manter um acompanhamento regular com equipe multidisciplinar é primordial para obter resultados cada vez mais assertivos. Pacientes que dispõem e utilizam das tecnologias, poderão fornecer também informações mais amplas por meio dos gráficos gerados pelos softwares de gestão.


Buscar aprimorar e refinar o tratamento, sem dúvidas  será sempre o caminho mais seguro

Comer na ordem correta já é um excelente início para achatarmos significativamente a curva de glicemia e reduzir a probabilidade de ganho de peso, de compulsões alimentares, letargia e efeitos colaterais nocivos a longo prazo de uma glicemia alta! Isso é revolucionário e poderá favorecer um melhor controle, ou seja, as evidências mostram que a ordem de consumo dos alimentos (iniciar a refeição pelas fibras e\ou proteínas), parece ser sim mais vantajoso…


Cuide-se!

Obs: 

– Toda estratégia nutricional deve ser preferencialmente individualizada com profissionais especialistas e adaptada à realidade de cada paciente, para uma melhor adesão e controle. 

– Indivíduos com comprometimento renal e\ou com necessidades proteicas elevadas devem seguir recomendações específicas para o quadro clínico. 






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